7 de jun. de 2013

O mundo rural na literatura brasileira

O Blog da Feira Nacional de Turismo Rural convida você a dar um pequeno passeio pelas principais obras da literatura brasileira relacionadas ao mundo rural!


A palavra escrita nasce da palavra falada. E toda a literatura – da forma como a conhecemos hoje – teve sua origem na oralidade do homem do campo. Com o passar do tempo, essa riquíssima cultura narrativa começou a ser registrada por escritores urbanos, com o objetivo de estabelecer, a partir de bases sólidas, a construção de uma autêntica identidade nacional.

No Brasil, esse processo teve início no século 19, com a obra de José de Alencar. A fim de desvendar a essência de nossa nacionalidade, Alencar construiu um grande painel do mundo rural brasileiro, escrevendo romances como O Sertanejo, de 1875.

Assim, José de Alencar foi o primeiro autor a retratar a riqueza da cultura rural do País, tornando-se o criador da narrativa de temática rural, um gênero que encontraria muitos seguidores no século 20.



Rapidamente, em 1902, surge uma obra revolucionária que iria romper com a antiga maneira idealizada de falar sobre o homem do campo: Os Sertões, de Euclides da Cunha – um relato dramático da Guerra de Canudos, que aconteceu no interior da Bahia, entre os anos 1896 e 1897.



Embora bastante ultrapassada do ponto de vista sociológico (com sua tese que depreciava a mestiçagem racial), a obra de Euclides da Cunha consegue ilustrar com cores bastante vivas a trágica epopeia da vida sertaneja, numa luta diária contra a aridez da paisagem e a opressão das elites governamentais.


Já no sul do Brasil, o grande representante do mundo rural na literatura é João Simões Lopes Neto. Sua obra principal, Contos Gauchescos, de 1912, é um marco para a cultura do Rio Grande do Sul. Com um estilo repleto de expressões regionais típicas do homem do pampa, Simões Lopes Neto consegue retratar, de forma bastante sofisticada e sem preconceitos linguísticos, toda a sabedoria iletrada do gaúcho brasileiro – extremamente influenciado pela literatura do Rio da Prata, sobretudo a obra Martín Fierro, do argentino José Hernández.


Dando prosseguimento ao nosso passeio pelo campo das letras, chegamos, já em meados da década de 10, ao fenômeno literário chamado Monteiro Lobato – o escritor mais representativo do universo rural no contexto da narrativa pré-modernista brasileira.




Em seu trabalho, praticamente tudo gira em torno da cultura do campo, desde o seu primeiro livro, o amargo Urupês, de 1918, passando pelas célebres histórias infanto-juvenis do Sítio do Pica-Pau Amarelo, nos anos 20, até a construção do estereótipo que sintetizou a figura do "caipira" brasileiro – o Jeca Tatu, de 1924.


Por outro lado, nesta mesma época, o Brasil assistia ao surgimento da Vanguarda Modernista, em São Paulo, que chegava para criticar satiricamente a ideia de construção de uma identidade nacional. E Mário de Andrade, um dos líderes do movimento, acabou atuando como o arauto da tradição folclórica dentro do Modernismo. Sua obra Macunaíma, de 1928, faz uma grande salada de mitos e lendas oriundos das mais diversas regiões do Brasil, apresentando a cultura interiorana de uma forma revigorada, crítica e, ao mesmo tempo, com profundo embasamento etnográfico.


Na esteira do experimentalismo modernista, surge, na década de 50, a mais importante obra literária produzida no País em todos os tempos: Grande Sertão Veredas, de João Guimarães Rosa, lançada em 1956.


Reconhecido internacionalmente pela originalidade de seu estilo, este livro apresenta um longo e misterioso diálogo entre o velho jagunço Riobaldo e um jovem doutor recém chegado a suas terras. Neste texto primoroso, cheio de invenções linguísticas e metáforas poéticas, Guimarães Rosa funde com precisão os elementos vanguardistas do modernismo à temática regionalista, criando uma obra-prima única e inovadora.


E para finalizarmos o nosso maravilhoso tour pelo mundo da literatura relacionada à temática rural, não podemos esquecer de Morte e Vida Severina, do poeta João Cabral de Melo Neto: uma espécie de "poema-peça" que relata a dura trajetória de um retirante nordestino em busca das promessas de prosperidade na cidade grande.

Certamente, um enredo bastante significativo, tendo em vista a constante ameaça de diluição que assombra a figura simbólica do homem rural em nossas sociedades urbanas e tecnológicas.


Afinal, como escreveu o próprio Euclides da Cunha: "Estamos condenados à civilização. Ou progredimos, ou desaparecemos". Mas não é bem assim. E por isso é que existe a literatura – para que a herança inestimável da sabedoria do homem rural não permita que nós, homens urbanos, sejamos definitivamente diluídos e ressecados pela nossa própria falta de raízes essenciais.

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